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"Que dor cura o cinema?"

Por Maryam Tafakory

12 JUL – 30 AGO 2025


Não sou curadora. Foi como cineasta que reuni estes programas para perguntar: como podemos continuar a fazer filmes quando os mapas estão a ser redesenhados com sangue, quando o genocídio é documentado no terreno, dia após dia, e rotulado como “conflito”, quando o silêncio é vestido de diplomacia, quando Gaza não é sequer nomeada, quando um genocídio é chamado de “crise no Médio Oriente”, quando alguns dos que têm voz, que têm palco, nunca disseram uma palavra sobre as maiores monstruosidades documentadas do nosso tempo? O que significa fazer arte num tempo que exige não a neutralidade, mas uma tomada de posição clara?

Por outro lado, já passaram quase dois anos desde que os meios de comunicação e as instituições culturais ocidentais se apropriaram do movimento Mulher, Vida, Liberdade, para encobrir a sua cumplicidade com as mesmas estruturas de poder que dizem criticar. Mulher, Vida, Liberdade tornou-se a posição política mais lucrativa e confortável no Ocidente para aqueles que optam por permanecer em silêncio enquanto crianças, mulheres e homens palestinianos são queimados vivos.

Pediram-me que organizasse alguns programas em torno de uma série de filmes meus — obras que, de formas diferentes, falam da censura no Irão e daquilo que não pode ser mostrado. Não posso escrever sobre a censura iraniana sem também falar da censura discreta e insidiosa das vozes palestinianas nas instituições culturais ocidentais. Esta nem sempre se apresenta como censura: apresenta-se como adiamento, como gestão de riscos, como emails que ficam sem resposta, apoios e exposições que são silenciosamente cancelados, artistas que deixam de ser convidados. Apresenta-se como silêncio: “não lhe chamem isso”, “não arrisquem”, “isto não vai mudar nada”, “não estraguem o ambiente”.

Não reconhecer o clima político em que vivemos hoje é mais uma forma de cumplicidade. Estes programas reúnem filmes de todo o Médio Oriente — obras que não procuram explicar nem traduzir. Foram feitas com a urgência de falar.

Toni Morrison escreveu: Este é precisamente o momento em que os artistas vão trabalhar. Não há tempo para o desespero, nem espaço para o medo.”

Mas o que significa ir trabalhar hoje, quando as instituições preferem um “posicionamento político” seguro, para parecerem progressistas, mas quase nenhuma quer uma verdade suficientemente afiada, capaz de abalar o status quo? Quando ser “político” é aplaudido, desde que se mantenha um discurso vago que não arrisque ofender a “paz” e os salários de quem financia estes espaços. Quando o artista é bem-vindo, desde que não perturbe o espectáculo. Desde que o negócio continue como de costume.

Não há uma forma certa de fazer filmes durante um genocídio, quando os mapas estão a ser redesenhados com sangue. Mas há uma escolha: entre a violência cúmplice do silêncio e o trabalho urgente de falar e fazer algo que importe. Este é precisamente o momento em que os artistas vão trabalhar”.

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