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Linhas de Bordadura

Francisca Dores

06 DEZ 2025 – 31 JAN 2026

Começo por olhar de perto. Piso a terra que, dividida por linhas, parece não ter fim. No início, estava a semente. Escondida no subsolo, está condenada a uma existência fugaz, sem possibilidade de se renovar. O fruto que dela obtemos, e pelo qual aguardamos entre 120 e 150 dias, é estéril. O grão de milho dentado é transgénico e infértil.

Confrontado com o conjunto de imagens fantasmagóricas de um lugar, transformado em prol da produtividade e rentabilidade, estabelece um paradoxo. Distancio-me, por isso, deste lugar. Procuro-o a partir da exosfera, apenas para encontrar muitos outros que lhe são semelhantes. Este ponto de vista cósmico revela-me uma manta de retalhos abstrata. Sinto que estou a observar os campos através da lente de um microscópio. Não sei se estarei perto ou longe.

Aproximo-me, lentamente. Vejo o mar, as monoculturas agrícolas e florestais. A partir de Vilar, vejo Vila do Conde. Este é um olhar automatizado, industrializado, que ultrapassa os limites do mundo natural. De repente e sem aviso, regresso à terra onde estão acumuladas centenas de substâncias químicas. Venenos que penetram os solos, que rompem com a natureza e com a condição fundamental das plantas: a sua capacidade de existir no mundo sem necessitar, como nos diz Emanuele Coccia em A Vida das Plantas, da “mediação de outros seres vivos para sobreviverem.” Pequenos rebentos brotam do chão. As linhas acentuam-se e o horizonte vai, solitariamente, desaparecendo. As monoculturas homogeneizaram de tal forma a paisagem que já não consigo olhar para o que está longe, para o que está para lá dos campos. Imito as máquinas que trabalham durante a noite, invertendo o ciclo natural das plantas, dependente da luz solar.

Por vezes, desafio-me a entrar no seu labirinto, na esperança de encontrar o fim do campo. Repito estas visitas até à exaustão, até que o fruto estéril esteja pronto a ser colhido. A repetição das imagens fotográficas dos campos articula-se, por isso, com o gesto industrial latente que é simultaneamente distante e possessivo, mas também microscópico e próximo. Depois, tudo começa outra vez.

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