PT
NÃO FECHAR, VOLTAMOS TODOS OS DIAS
CARLA FILIPE
"Não fechar, voltamos todos os dias, a proposta que Filipe agora apresenta, inscreve-se, tal como as mencionadas anteriormente, numa lógica de investigação e problematização do contexto em que o projeto é desenvolvido e apresentado. Interessada pelo Convento de Santa Clara, e sobretudo pelo seu estatuto atual no contexto social, político e económico da cidade de Vila do Conde, a artista colocou em marcha um processo de trabalho que incluiu visitas ao edifício, entrevistas a pessoas que estabeleceram uma atividade profissional ligada em determinado momento ao convento, bem como a recolha de material abandonado ainda existente no edifício, antes da sua entrada em obras. Este trabalho de campo, ainda que partindo da história recente do convento, das funções que desempenhou ao longo do século XX, seja como centro de reclusão, estabelecimento correcional para menores ou escola profissional, não tem como objetivo uma arqueologia social do que se passou no interior do convento. A Filipe não lhe interessam tanto as histórias de quem habitou o convento, dos delinquentes reeducados ou dos seus captores-educadores do passado, ou dos "delinquentes" atuais que, até há bem pouco tempo, habitavam o edifício, configurando uma nova função utilitária, ainda que mantendo isolado do resto da cidade, de forma não premeditada ou definida intencionalmente, aquilo que não é socialmente aprovado. Tal interesse seria problemático tendo em conta os pressupostos que enformam a prática de Filipe, prendendo o trabalho numa espécie de armadilha emocional, e constrangido-o a uma dimensão afetiva que se encontra nos antípodas do que Filipe procura. Pelo contrário, todo o projeto pretende debruçar-se sobre o espaço físico, sensorial e psicológico que o Convento de Santa Clara delimita e projeta, do alto do monte que ocupa, na cidade.
Assim, não será de estranhar que uma imagem bastante real e tangível desse espaço seja transportada do próprio convento para o espaço expositivo. Parte das estruturas que definiam os quartos dos internos, em metal e contraplacado de madeira, foi desmontada e transportada para o espaço expositivo onde se encontra agora remontada. Esta construção tridimensional apresenta-se como uma figura geométrica simples, uma abstração construída com materiais marcados pela passagem do tempo, pela função que desempenharam e pelo abandono. Outros elementos, também eles resgatados do convento antes da sua entrada em obras, encontram o seu novo lugar na exposição. Pinturas e objetos construídos pelos internos funcionam como memória de como o tempo no interior do convento era preenchido, entre períodos de lazer e de aprendizagem de uma profissão. Imagens de animais da quinta, vacas, cavalos, burros, porcos e retratos de um rapaz a jogar futebol, de outro a estudar empenhadamente cruzam-se com trabalhos de carpintaria e de serralharia, uns mais lúdicos, outros mais funcionais. Um vídeo documenta as visitas realizadas pela artista ao edifício, tornando visíveis os espaços agora abandonados, a cela solitária, as estruturas dos quartos coletivos, também presentes na exposição, as mensagens deixadas na paredes e os grafítis, escritos pelos internos, ou por ocupantes mais recentes. São testemunhos concretos não só daquilo que foi e daquilo que agora é o Convento de Santa Clara, mas também daquilo que a cidade, e a comunidade que nela habita, imagina que este espaço seja. É simultaneamente o convento e uma projeção do convento, realidade e mito, trazida para o espaço da galeria e devolvida ao espetador."
Excerto do ensaio de João Mourão e Luís Silva
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4480-791 Vila do Conde
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