O 13º Curtas Vila do Conde mais uma vez estendeu a sua programação à Solar com uma exposição que, pelo confronto entre obras de apenas dois artistas em foco, constituiu, desta feita, uma novidade.
Convidamos a artista holandesa Manon de Boer e o cineasta austríaco Siegfried Fruhauf para uma mostra consistente dos seus universos de trabalho: no caso de Boer, o retrato; no caso de Fruhauf, o filme como memória e, ao mesmo tempo, matéria.
Nascido em 1976 na Áustria, Siegfried Fruhauf trabalha sobretudo na área do cinema experimental. Com um vigor extraordinário, tornou-se conhecido no cinema austríaco e europeu em poucos anos. Fruhauf não só continuou a tradição fértil dos cineastas vanguardistas da Alta Áustria (Kubelka, Export, Weibel, Brehm e Tcherssasky, são apenas alguns exemplos), como também conseguiu descobrir uma abordagem ao cinema ?estrutural? que nunca cessa de surpreender. S. Fruhauf é um assíduo frequentador de festivais de cinema, tendo os seus filmes sido apresentados em alguns dos mais reputados, nomeadamente Cannes e Veneza. As suas recentes instalações vídeo têm sido apresentadas em exposições na Áustria e Suiça e começam a despertar interesse no meio artístico europeu.
Nascida em 1966 na Índia, de nacionalidade holandesa, Manon de Boer tem vindo a desenvolver uma série de projectos e instalações ao longo dos últimos anos, expostos na Bélgica e na Holanda e, colectivamente, na Europa. O seu trabalho vive da exploração do retrato enquanto elemento ligado à memória. Um fascínio obsessivo pelo acto de filmar o rosto, acaba por resultar num trabalho de cariz autobiográfico onde o ecrã funciona como espelho. Ao longo dos últimos nove anos, os trabalhos de Manon de Boer têm sido apresentados regularmente em alguns importantes espaços de exposição, entre os quais o Stedelijk Museum de Amsterdão e a GalerieJan Mot em Bruxelas. Recentemente realizou a curta metragem "Silvia Kristel", filme apresentado em competição no Festival do ano passado e exibido em alguns conceituados festivais de Cinema, como Hong Kong Film Festival, FICD Marseille ou Rotterdam film festival, e que consistiu na sua primeira incursão num cinema de cariz documental.
A ideia do confronto das obras de dois autores, à partida com poucas afinidades no campo formal e estético, que de algum modo se cruzam num percurso em sentido inverso em relação às suas carreiras, serviu como génese para o desenvolvimento do conceito desta exposição.
Foram propostas duas áreas distintas do espaço da galeria, uma a cada um dos autores, áreas essas separadas por um corredor que funciona como espaço de fronteira, física e conceptual, entre os trabalhos apresentados.
A disposição das obras foi imaginada pelos autores sem que cada um tivesse qualquer conhecimento prévio daquilo que o outro concebera.
A exposição, intitulada Dissolution Film Portraits, incluiu algumas das obras mais recentes dos dois autores, bem como novos trabalhos ou novas formas de apresentação de instalações já existentes. Film Dissolution integrou novas peças concebidas por Siegfried Fruhauf para um contexto de exposição, onde o artista abordou o elemento central da sua obra, o filme como matéria ou elemento onde a memória se dissolve. Film Portraits integrou um conjunto de trabalhos onde Manon desenvolveu uma série de reflexões sobre o rosto, a voz e a memória como forma de retrato e elemento autobiográfico.
Destacam-se as estreias de Time Lapse e Exposed ( versão instalação) de S. Fruhauf e Annemiek, de M. de Boer, obras expressamente concebidas para esta exposição na Solar.
Comissariado: Nuno Rodrigues