Exposição dedicada ao cineasta austríaco Martin Arnold, que apresentou pela primeira vez a sua obra em Portugal em contexto expositivo, depois dos seus filmes “Psycho” e “Alone. Life Wastes Andy Hardy” terem sido exibidos em edições anteriores do Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema.
O percurso expositivo pelos vários espaços da galeria foi construído a partir da articulação entre duas tendências que caracterizam diferentes momentos na obra de Arnold, sublinhando uma mudança em direcção à criação de instalações vídeo para museus que caracteriza os últimos seis anos da sua produção artística, acompanhada por um progressivo abandono do seu trabalho enquanto cineasta que o notabilizou internacionalmente na década de 90.
O primeiro núcleo era constituído por “Deanimated” e “Dissociated”, concebidos em 2002 para a exposição que a Kunsthalle Wien dedicou ao artista. Estes trabalhos, a preto e branco, e apresentados como instalações vídeo, em articulação com o espaço onde são exibidos, têm como ponto de partida a manipulação de excertos de clássicos do cinema de Hollywood, remetendo-nos para uma fase anterior da sua obra no campo do cinema experimental. Alguns segundos de found footage constituem a matéria-prima para a realização de obras mais longas, marcadas pela desintegração de narrativas resultante da transformação da imagem e da descoberta de emoções não expressas nos filmes, como acontece em “Dissociated”, onde Arnold explora os momentos escondidos entre os frames, desintegrando as sequências e mostrando aspectos quase imperceptiveis da imagem.
Na obra que deu título à exposição “Deanimated”, comissariada por Thomas Mießgang, Arnold leva-nos a assistir, no numa falsa sala de cinema construída no interior do espaço expositivo, ao desaparecimento das personagens do filme “Invisible Ghost” de 1941, através da manipulação e desintegração dos mesmos.
O confronto entre a obra “Deanimated” e “Dissociated” reflecte a substituição da situação de observação tradicional de cinema, resultante da utilização de duplas projecções, liberta o observador da perspectiva central, levando-o a descobrir novos pontos de vista individual e janelas de tempo que exploram a simultaneidade dos eventos cinematográficos.
Os trabalhos mais recentes de Arnold prescindem da manipulação digital de excertos do cinema clássico americano que caracteriza as suas obras anteriores, dando lugar à criação de instalações que revelam uma maior aproximação à vídeo art e à performance, apresentadas em díptico ou tríptico. A par da continuidade da utilização do vídeo como elemento central do seu trabalho, surgem novos elementos, imagens a cor, filmadas pelo próprio artista.
Jovens estudantes actuam perante a câmara, em situações concebidas e documentadas em vários ecrãs, criando uma interacção entre as diferentes filmagens que explora a construção e a reconstrução do som e da imagem, e o desaparecimento, que constitui o elemento central de toda a sua obra, tal como sucede em “Cloudy Insulin” e “Silent Winds”.
No mesmo tipo de registo, a sua obra mais recente, “Coverversion”, retoma a questão da desconstrução, à semelhança do que acontece em “Deanimated”, no falso filme projectado na falsa sala de cinema, mas aqui com uma banda pop “fake”, os Milli Vanilli.
No âmbito desta exposição decorreu um conjunto de actividades paralelas integradas na programação do 16º Curtas Vila do Conde – Festival Internacional de Cinema. No dia 9 de Julho Martin Arnold apresentou os filmes “Alone. Life Wastes Andy Hardy”(1998), “Passage à l´acte” (1993) e “Pièce Touchée” (1989) no Auditório Municipal de Vila do Conde, seguida de uma visita guiada à exposição na Solar-Galeria de Arte Cinemática.